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Manifesto Slow Ride: o movimento que transforma a forma de viajar de moto

  • Foto do escritor: José Caetano
    José Caetano
  • 12 de ago.
  • 4 min de leitura

Em um mundo cada vez mais acelerado, onde a produtividade é medida pelo número de tarefas cumpridas no menor tempo possível, a estrada também sofreu a contaminação da pressa. Viagens de moto viraram maratonas de quilômetros, rotas foram comprimidas em cronogramas rígidos e a obsessão pelo destino fez muita gente esquecer de aproveitar o caminho.


Mas essa história começa antes de chegarmos às motocicletas.


Motos em estrada bucólica

O início: uma revolução à mesa


Na década de 1980, na pequena cidade de Bra, no norte da Itália, um jornalista e gastrônomo chamado Carlo Petrini viu um símbolo da velocidade moderna ameaçar a tradição culinária local: uma rede internacional de fast food. Para ele, não era só sobre comida rápida; era sobre o avanço de uma mentalidade que sacrificava qualidade, cultura e conexão em nome da pressa e da padronização.


Foi assim que nasceu o movimento Slow Food, um ato de resistência cultural que pregava o oposto: comer devagar, valorizar ingredientes locais, respeitar o tempo de preparo e transformar cada refeição em uma experiência. Não se tratava apenas de mastigar mais lentamente, mas de mudar a relação com a própria vida, trocando o consumo automático pela apreciação consciente.


Do prato para o mapa: Slow Travel


Com o tempo, a filosofia do Slow Food encontrou eco em outro cenário: o turismo. Se comer com pressa empobrece a refeição, viajar correndo empobrece a experiência.


O Slow Travel surgiu como resposta à lógica do “checklist turístico”, onde o objetivo é visitar o maior número possível de pontos em pouco tempo. Em vez disso, propõe que se gaste mais tempo em menos lugares, conhecendo pessoas, explorando ruas sem pressa, provando comidas locais e entendendo a cultura de dentro para fora.


O Slow Travel não ignora a modernidade, mas propõe um pacto com ela: viajar de forma mais consciente, ampliando a profundidade das experiências. É uma recusa a transformar a jornada em uma corrida.


O nascimento do Slow Ride


Se essa filosofia funciona para comida e viagens, por que não para motocicletas?

Foi dessa pergunta que pensamos no conceito de Slow Ride — uma adaptação natural da ideia de desacelerar, agora aplicada ao universo das duas rodas. No Slow Ride, a estrada deixa de ser um corredor de chegada e se transforma em um palco de vivências. Não importa apenas onde se vai, mas como se vai.


Ao contrário do fast ride, que prioriza a velocidade, o menor tempo de deslocamento e a quantidade de quilômetros rodados, o Slow Ride defende que pilotar é um ato contemplativo. É escolher uma estrada secundária em vez da rodovia principal, parar para conversar com o dono de um posto antigo, sentir o aroma da serra ou do campo, e até mesmo interromper a viagem para tomar um café em um vilarejo.



O Manifesto Slow Ride


O Classic Man Ride e o Portal Gasolina formalizaram esse espírito no Slow Ride Manifesto. Mais do que um conjunto de frases inspiradoras, o manifesto é uma declaração de valores para um estilo de vida sobre duas rodas.

Café e cigarro perto das motos

Ele defende que:

  • O tempo na estrada não é para ser medido, é para ser vivido.

  • Cada viagem é uma obra única, e não um número no odômetro.

  • A moto é um instrumento de liberdade, não uma ferramenta de competição.

  • O destino importa, mas o caminho importa mais.

  • As histórias da estrada são o verdadeiro troféu.


O manifesto é um convite para que cada piloto seja mais do que um viajante: seja um colecionador de momentos.


A diferença entre pilotar rápido e pilotar bem


Alguns podem interpretar o Slow Ride como um incentivo à lentidão extrema ou à falta de técnica, mas não é isso. Trata-se de prioridades. No fast ride, o prazer vem de superar a si mesmo e aos limites da máquina. No Slow Ride, vem de usar a moto como um meio para explorar o mundo e a si próprio.


Não é um desprezo pela performance, mas um reposicionamento de valores: a viagem perfeita não é aquela em que se chega mais rápido, mas a que se leva mais tempo para esquecer.


O cenário ideal para o Slow Ride


As motos clássicas, retrôs e cruisers naturalmente se encaixam nessa filosofia. Sua ergonomia, som e estética remetem a uma era em que pilotar já era, por essência, um ato mais contemplativo. Mas o Slow Ride não é exclusivo delas — qualquer moto pode ser um instrumento dessa jornada, desde que o piloto adote o espírito certo.


Triumph Bonneville em estrada vazia
A Serra da Mantiqueira é repleta de estradas bem interessantes com destinos únicos. Foto: José Caetano

Rotas como a Trans Euro Trail, na Europa, ou estradas secundárias do interior brasileiro, oferecem o cenário perfeito para essa abordagem: menos tráfego, mais curvas, paisagens mais próximas e um contato genuíno com comunidades locais.


O movimento que cresce


O Slow Ride não é apenas uma moda passageira. Assim como o Slow Food se tornou uma instituição global e o Slow Travel ganhou adeptos em todo o mundo, essa filosofia sobre duas rodas já começa a criar sua tribo.


Pilotos estão compartilhando rotas, encontros e vídeos que celebram o tempo desacelerado. É só ver o tanto de canais de YouTube surgindo com esse tema. E mais do que um estilo de pilotagem, o Slow Ride está se tornando um estilo de vida — uma forma de resistir ao excesso de pressa que domina nossas cidades, nossos trabalhos e até nossos lazeres.


Um convite aberto


Seja você um veterano do asfalto ou alguém que acabou de tirar a habilitação, o Slow Ride é um convite para experimentar a estrada de forma diferente.


Porque, no fim, talvez a maior descoberta seja que, ao desacelerar a moto, você também desacelera a vida. E aí, cada quilômetro deixa de ser apenas distância e passa a ser memória.



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