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Motos Clássicas Modernas e seu Simbolismo

  • Foto do escritor: José Caetano
    José Caetano
  • 5 de dez.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 8 de dez.

Liberdade, elegância e expressão pessoal. São esses os três pontos que, para mim, definem o fascínio das motos clássicas modernas, essas máquinas que vão além da mecânica para se tornar parte da identidade de quem as pilota.


Ainda que as grandes american cruisers possam preencher o imaginário mundial quando se fala de moto como símbolo de liberdade, certamente elas não trazem quase que nenhum referencial de elegância e praticamente anulam a expressão pessoal do piloto. O sujeito que pilota uma Harley-Davidson faz parte de uma tribo e não falo isso como crítica, mas apenas como constatação, já que eu participei dessa tribo por bons anos e ainda vejo nisso uma legítima expressão de cultura.


Contudo, depois de ter feito a experiência de trocar minha moto por uma Bonneville, acabei me conscientizando de algo que já via na Europa, quando por lá trabalhei e vivi, mas que não tinha ainda ligado os pontos.


Piloto ao lado de uma Bonneville T120 Black

Clássicas Modernas: Moto com cara de moto


Mas, antes de falarmos disso, precisamos definir o que seriam as motos clássicas modernas, já que a definição de clássico acaba sendo muito ampla. Vamos usar a nomenclatura que as próprias marcas estabeleceram para suas motos. De acordo com a Triumph e a Royal Enfield, Clássicas Modernas são essas motos que se assemelham às motos inglesas do século XX, como toda a família Bonneville da Triumph, a Interceptor, a Classic e a Continental GT da Royal Enfield, a finada Norton Commander, a BSA Goldstar, entre outras.


São as motos com cara de moto, como diria meu amigo e mecânico de motos extremamente gabaritado, Dom Geraldo Lima. O que pode ser também corroborado por um menino de 5 anos de idade ao desenhar uma moto. Posto isso, podemos continuar nossa reflexão sem maiores discussões.


Estilo que não impõe


Talvez por não serem motos tão grandes e pesadas como as americanas grandonas, e nem tão cheias de carenagens e cores brilhantes como as super bikes, ao mesmo tempo que guardam um certo refino em sua construção e esse aspecto retrô, essas motos possuem um estilo que é presente sem se impor.


A elegância, no caso, não está apenas no ato de pilotar. Ela se encontra nas formas, nas linhas que carregam uma história, no acabamento que respeita os detalhes. Essas motos não gritam, não exageram; elas são sofisticadas no silêncio, por assim dizer, de seus detalhes.


Dessa maneira, elas acabam se tornando uma extensão do estilo pessoal, aquele clássico que se traduz também em roupas e acessórios: jaquetas ou casacos, botas escolhidas com cuidado, relógios que contam mais que horas. Uma moto clássica moderna reforça essa imagem, essa personalidade.


Bonneville T120 Black e Interceptor 650

A customização do piloto e não da moto


Uma das coisas mais comuns entre as american cruisers é a customização. Há até mesmo uma máxima de que não existe uma Harley igual à outra e, talvez seja por isso, que aqui no Brasil costuma-se chamar esse tipo de motos de motos “custom”.


No mundo das motos clássicas, a customização existe, mas não é o foco. E posso dizer isso por experiência, pois quando produzi um vídeo para meu canal de YouTube, Portal Gasolina, tirando a ponteira de escapamento esportiva de minha Bonneville e reinstalando a original, 99,98% dos comentários manifestaram a preferência pelo original.


Nas motos clássicas modernas, é o piloto que se customiza. Você não precisa ter a mais nova jaqueta de couro com o logo da marca de sua moto para ter o ingresso da tribo. Não precisa ter o capacete custom de forro rebaixado, nem o tênis de skate famoso. A única coisa que parece ser exigido é uma certa elegância e uma postura mais tranquila, sem se preocupar muito com o que seu parceiro de estrada pensa de você.


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Cerveja ou Café


Aqui eu peço sua ajuda para tentar identificar se é uma coisa da minha cabeça ou se realmente é isso mesmo.


Vou lançar a minha hipótese para ser contestada ou confirmada por você, meu caro amigo. Parece que o habitat típico do espécime piloto de moto cruiser é o bar, especialmente se sua arquitetura e design de interiores se aproximar mais do estilo americano. Se tiver a cara de um celeiro, então, certamente você verá mais de uma Harley parada na frente.


Agora, parece que o espécime piloto de moto clássica é um indivíduo cujo habitat típico é o café, principalmente se houver um barista no comando de uma máquina de espresso bem calibrada.


Isso é coisa da minha cabeça, ou realmente o estilo das motos acaba refletindo também nos hábitos dos pilotos dessa maneira? Eu não consigo ainda definir isso por experiência, porque sempre gostei mais de café do que de cerveja, mesmo nas décadas em que pilotei Harley Davidson, e faz só pouco mais de um ano que vivo circulando pelo mundo das motos clássicas.


Distinguished Gentleman’s Ride


E é nesse ponto que tudo converge: no Distinguished Gentleman’s Ride, o DGR. Anualmente, em maio — como na edição de 2025 que fui co-host em São José dos Campos —, reúno-me com essa tribo sutil de elegância sobre duas rodas. Vestimos paletó e gravata, pilotamos nossas Bonnevilles, Continentals e Guzzis por ruas que viram passarela, não de ostentação, mas de propósito: saúde mental masculina e prevenção ao câncer de próstata.


Distinguished Gentleman’s Ride em São Paulo

O DGR não é só um passeio. É o manifesto vivo dessa liberdade sem tribos ruidosas, dessa elegância que não impõe e dessa expressão pessoal que se constrói no silêncio da estrada e no vapor de um bom café.


Então, meu caro amigo, depois de trocar o ronco grave da Harley pelo sussurro refinado da Bonneville, percebo que o que mudou não foi só a moto, mas o espelho que ela me devolve: um sujeito mais livre para ser tranquilo, mais autêntico na sua expressão.


No DGR, tudo isso ganha vida coletiva — paletós alinhados, espressos compartilhados antes da largada, motos com "cara de moto" alinhadas como sentinelas da alma clássica. Não é tribo de bar ruidoso, mas irmandade, onde a liberdade se veste de propósito.


E você? Já sentiu esse chamado? Pegue sua clássica moderna, vista-se com o que te define, pare num café com espresso duplo e marque presença no próximo DGR. A estrada espera sua história.

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